O segredo da multiplicação dos quadros


 



Quando os primeiros TVs LCD chegaram ao mercado, uma das mais pesadas críticas recebidas por esses aparelhos eram os chamados “fantasmas” que apareciam nas imagens com muito movimento, o que deixava o ato de assistir um filme, por vezes, algo bem desconfortante. Esse rastro, ou fantasma, estava diretamente associado a uma deficiência da tecnologia que, apesar de existir há mais de 40 anos, apenas recentemente foi incorporada aos displays de grandes tamanhos para a exibição de imagens em movimento: o baixo tempo de resposta.
Aqui vale o primeiro esclarecimento e que geralmente causa muita confusão nos consumidores que são levados a acreditar que tempo de resposta e taxa de atualização se referem a uma mesma característica. Embora eles estejam diretamente associados, cada um desses termos está relacionado a um processo da formação da imagem nos TVs LCD. 
Enquanto o tempo de resposta está ligado ao período, medido em milésimos de segundo, que um pixel do display demora para completar seu ciclo de formação, em que passa de apagado/aceso/apagado (para formar a imagem propriamente dita); a taxa de atualização (refresh rate), medida em Hertz, indica o número de vezes por segundo que os circuitos internos do display fazem a varredura de toda a superfície do painel a cada mudança de imagem. Combinando essas duas características, menor tempo de resposta com rápida taxa de atualização, é que foi possível chegar a uma melhoria significativa nas imagens exibidas pelas telas LCD.
DESFAZENDO A CONFUSÃO
Tempo de resposta - O aumento no tamanho das telas elevou também o número de pixels que encontramos dentro desses painéis. Isso exige que o processador interno faça leitura numa velocidade muito alta e com precisão, para evitar os rastros nas imagens. Esse problema não aparecia em outras tecnologias, porque o processo de formação de imagem difere entre elas. Enquanto nos TVs de tubo e plasma a imagem se forma sobre uma camada de fósforo ativada eletronicamente (num processo extremamente rápido), nos TVs LCD são molécula de cristal líquido que formam os pixels. Essas, ativadas por impulsos elétricos, alteram a angulação para permitir maior ou menor passagem de luz, uma tarefa mais lenta. 

No intervalo dessa angulação, uma cena rápida já “passou” pelo cristal que estava sendo manipulado, restando a ele exibir os rastos (fantasmas) dessa cena na tela. Esse tipo de problema era muito comum em telas com tempo de resposta acima dos 8 milesegundos, porém ultimamente já é comum encontrar no mercado telas com tempo de resposta na casa dos 4 milesegundos e as mais sofisticadas já chegam a apenas 2 milesegundos, muito próximo ao apresentado pelos plasmas que ficam abaixo de 1ms.
                                                                                                                  Clique na imagem para ampliar
Taxa de atualização – Se por um lado a diminuição do tempo de resposta trouxe benefícios para a rápida formação da imagem, na outra ponta criou um problema para quem busca sempre um bom desempenho nas cenas exibidas. Com a formação das imagens com rapidez, era fundamental que a varredura da superfície do painel fosse feita também com agilidade, para evitar dois novos problemas que surgiram: o efeito blur (borrões) e o judder (trepidações ou engasgos). Com a rápida renovação da informação e uma varredura mais lenta era impossível não ver os borrões e as trepidações. Esses problemas apareciam sempre que assistíamos a cenas com movimento, partidas de futebol ou até mesmo o deslocamento da câmera de um ponto a outro.

Para eliminar isso é que foi criada a tecnologia dos 120Hz, chamada por cada fabricante de um nome específico. Basicamente, ao ativarmos esse recurso num LCD, nós estamos permitindo que o display crie imagens adicionais dentro dos 30 quadros por segundo que formam a imagem numa transmissão de vídeo.                                                                                                                                          
POR DENTRO DOS NÚMEROS                                                                      
 
 60Hz, 120Hz ou 240Hz? O que há de diferente entre esses números? Os televisores básicos comercializados no Brasil e nos EUA oferecem taxa de atualização de 60Hz (na Europa, a freqüência básica é de 50Hz, daí porque os modelos mais avançados trabalham em 100Hz, 200Hz e assim por diante). Como vimos, as imagens em vídeo se formam a uma velocidade de 30Fps (frames per second - quadros por segundo), e o PAL-M, padrão da televisão brasileira, possui freqüência de 60Hz por segundo. Daí concluímos que uma transmissão de TV tem um quadro sendo lido duas vezes antes de chegar a tela. Um display com 120Hz varre esse mesmo quadro quatro vezes e de 240Hz, o máximo disponível hoje no mercado, oito vezes. 
Ao fazer essa leitura, esse processamento cria imagens adicionais (ou novos quadros) que são inseridos na cena que está sendo gerada. Um televisor 120Hz cria uma imagem adicional a cada ciclo de um segundo e um televisor com taxa de atualização de 240Hz cria três imagens adicionais a cada ciclo. Criando essa tecnologia, os fabricantes buscaram entregar uma melhor qualidade de imagem melhorando a nitidez das cenas de muito movimento, melhor contorno das bordas dos objetos e uma eficiente redução no borrão nas tomadas rápidas de câmera. A esses benefícios as empresas costumam dar o nome de recurso para suavização de imagem. 
 
 
ATIVAR OS 120HZ SEMPRE É BOM?
A reposta é: depende. Claro que gosto é algo muito pessoal, mas para entender os problemas que essa tecnologia pode causar vamos pegar um exemplo bem pontual, os filmes em Blu-ray. As imagens se formam a uma velocidade de 30 quadros por segundo, com exceção do cinema e boa parte dos filmes em Blu-ray que possuem velocidade de 24 quadros. Ou seja, nesses discos a imagem em movimento é produzida através da reprodução de 24 imagens estáticas em 1 segundo. Por isso, no Blu-ray cada quadro é iluminado 2 ou 3 vezes, ou seja, tem refresh rate de 48Hz ou 72Hz. Essa grande diferença entre o número de quadros e a velocidade de leitura é o que causa problemas como “soquinhos” nas imagens ou até mesmo um visual muito artificial (como se as imagens fossem plastificadas).
Especificamente neste caso, para minimizar os problemas existem duas saídas. Não utilizar os recurso, preferência adotada pelos mais críticos, com a preservação inclusive dos ruídos característicos do formato da película, ou ativar sempre na opção MÍNIMA. Assim, embora haja a colocação de alguns quadros na imagem original, ela não interfere muito na qualidade das cenas, além de diminuir sensivelmente os ruídos característicos do formato. 
Por outro lado, ao utilizar o ajuste no MÁXIMO criamos um efeito artificial, com uma falsa impressão de movimento, como se estivéssemos diante de uma imagem “super slow”, mas sendo exibida em velocidade normal. Outro problema é a fadiga visual que isso pode causar. Numa comparação mais simples, é como se estivéssemos tantos quadros a mais que não temos tempo sequer para piscar. Ou esse ato, fundamental para lubrificação e descanso dos olhos, não fosse suficiente.
OS MUITOS NOMES DA ATUALIZAÇÃO
LG - TruMotion 120Hz/240 Hz
Mitsubishi - Smooth Motion Technology
Panasonic - Intelligent Frame Creation (IFC)
Philips - HD Natural Motion/Clear LCD
Samsung – Auto Motion Plus 120 Hz/240Hz
Sharp - Motion Fine Enhanced
Sony - MotionFlow120 Hz/240Hz 
Toshiba - ClearScan 120 Hz/240Hz

por Por Ricardo Marques - Home Theater

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