A batalha do contraste dinâmico

Sem dúvida, as novas tecnologias aplicadas aos displays trouxeram um benefício muito grande à relação de contraste. Quanto maior for essa taxa, mais consistentes serão as imagens, maior será o nível de variações de cinza e, conseqüentemente, observaremos mais detalhes. Na prática, a taxa de contraste define quantas vezes o nível de preto é mais escuro que o branco puro. Porém, muitos artifícios são utilizados para inflar estes valores. O mais comum é omitir os métodos de medição utilizados. Mas, afinal, o que mudou?


A medição antes era feita com sinais-padrão estáticos, como na norma ANSI (American National Standards Institute). Aplicava-se um sinal chamado checkerboard (“tabuleiro de xadrez”), que continha oito retângulos brancos alternados por oito retângulos pretos. Através da média da luminância verificada no centro de cada retângulo branco, dividida pela média dos retângulos pretos, determinava-se quantas vezes o nível de branco era maior do que o de preto. Saía daí a relação de contraste de cada tela.Com o aumento da concorrência, os fabricantes, de tempos em tempos, passam a enfatizar novas especificações técnicas para chamar a atenção dos consumidores. Recentemente, tivemos a era dos ANSI Lumens. Depois, veio a luta pelo maior nível de contraste. Agora, estamos vivendo uma nova fase. Está deflagrada a guerra do contraste dinâmico.

Outro método bastante utilizado é o chamado Full-Field Contrast Ratio, ou simplesmente Full On/Off. Consiste em medir na tela cheia o máximo de branco e o mínimo de preto que o equipamento consegue mostrar. Fazendo a divisão desses números, temos como resultado a taxa de contraste Full On/Off. Na minha opinião, esse método mostra valores muito otimistas (bem maiores que no ANSI). Nesse caso, é praticamente nulo o efeito da luz produzida pelo display que retorna refletida pelo ambiente.

Agora, temos também o contraste dinâmico, técnica utilizada principalmente em displays LCD para compensar a deficiência desses painéis na reprodução dos tons pretos da imagem. Em geral, esse contraste pode ser conseguido através da alteração do processamento do sinal ou, no caso de projeção, alterando também a potência luminosa da lâmpada, de forma a diminuir a intensidade dos pixels nas partes escuras, aumentando-a nas partes claras.

O sistema de íris adotado nos projetores LCD serve de exemplo. A íris colocada entre a lâmpada e o bloco óptico se fecha para as porções escuras da imagem e se abre para as porções claras. Isso é feito baseado nas informações coletadas por um processador que analisa cada ponto de formação da imagem, determinando em quais pontos a íris deve ser aberta ou fechada. A idéia é a seguinte: numa cena predominantemente escura, não precisamos de muita luminosidade da lâmpada. Nesse caso, a íris posicionada logo após a lâmpada se fecha parcialmente, bloqueando parte da luz. Assim, as partes escuras da imagem são acentuadas. Em cenas claras, a íris se abre totalmente, deixando passar toda a intensidade da luz. Desse modo, temos brancos mais brancos e pretos mais pretos

Nos novos displays LCD de led, é usada uma outra técnica para aumentar o contraste dinâmico. Como eles não têm lâmpadas fluorescentes para fazer o backlight, seu brilho é controlado de acordo com o conteúdo da imagem. Isso pode representar um contraste dinâmico da ordem de 30.000:1, proporcionando de 1.000 a 4.000 níveis de cinza, contra 256 níveis dos LCDs tradicionais.

Os valores anunciados nos catálogos pecam pelos seguintes motivos: só são encontrados em situações particulares, com salas totalmente escuras e sem reflexões. Além disso, não levam em consideração a uniformidade, o balanço de branco e não há referências de como o equipamento se comporta nos tons cinzas (entre o preto e o branco).
Mais importante do que uma alta relação de contraste é a capacidade do display mostrar um perfeito grayscale (escala de cinzas). Somente com todos os níveis de iluminação de cinzas, podemos obter maior sensação de profundidade, a correta colorimetria e tons de pele naturais.

*Publicado originalmente na revista HOME THEATER & CASA DIGITAL

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