PLC: uma revolução nas nossas casas

por Por Vinicius Barbosa Lima*

Em plena era da convergência digital e da febre dos downloads, a todo o momento surgem novas demandas por taxas mais altas de transferência, permanecendo a questão de como viabilizar isso com o melhor rendimento e menor custo possível.

Se para longas distâncias a questão da transmissão de dados já foi resolvida com o a fibra óptica, o grande problema continua sendo os últimos quilômetros até o sinal chegar ao destino. Afinal, o cabo óptico não chega até seu prédio, nem sobe até seu apartamento, sendo sempre necessária alguma interface de conversão para as redes de telefonia e TV a cabo. Estes sempre se mostraram convenientes à transmissão de dados, seja pela facilidade de modificação para esse fim, ou pelos atraentes custos envolvidos.

Entretanto, serviços de telefonia ou de TV por assinatura não servem a todas as localidades, tornando importante encontrar alguma alternativa. E ela já existe: chama-se PLC (Power Line Communications). De forma simples, consiste em aproveitar a instalação elétrica existente nas residências para se fazer circular dados. E falo de todo e qualquer tipo de informações comumente presentes em redes de acesso de baixa e alta velocidade, cujo melhor exemplo é a internet.

A bem da verdade, o conceito PLC não tem nada de novidade, pois apesar de ser praticamente desconhecido do público em geral vem sendo pesquisado e desenvolvido há mais de três décadas por empresas como Nortel, Echelon, Enikia e Intellon. Para ser ter idéia, o conhecido sistema de automação X10 sempre se baseou na transmissão de comandos pela rede elétrica, e assim operava nos EUA em empresas como Sears, General Electric e RCA desde o final da década de 70, na época trafegando apenas sinais de baixa velocidade.
É natural alguma resistência à idéia, pois as redes elétricas e suas freqüências fundamentais (50 ou 60Hz) foram concebidas para transportar energia em sua forma bruta, e não dados. Em nosso meio sempre foi ensinado que tudo que habita a rede elétrica, que não seja a senoidal pura de 60Hz (no caso do Brasil), deve ser encarado como deformação espúria e, portanto, filtrado e eliminado do circuito.

Só que a transmissão de dados pela rede elétrica ocorre em alta freqüência, muito além da fundamental da rede, de forma que há poucas chances de interação negativa com equipamentos de áudio e vídeo. O ETSI (Instituto Europeu de Normatização das Telecomunicações) homologou a faixa de freqüência entre 9 e 11MHz, e seu correspondente norte-americano (FCC) pretende que tudo ocorra entre 15 e 30MHz, sempre falando em uso doméstico. E por lá (EUA) já existe até a Home Plug Powerline Alliance, que visa especificar equipamentos e regulamentar serviços nessa área.

Claro que nem tudo são flores, pois há muitas outras operações de telecomunicações que ocorrem nessas faixas de freqüência (rádio e TV, por exemplo), e mesmo eletrodomésticos plugados na mesma rede (máquinas de lavar, liquidificadores, batedeiras) podem gerar ruídos de alta freqüência, interferindo na relação sinal/ruído e prejudicando o desempenho no tráfego de dados.

Por esse motivo, o PLC deve adotar dispositivos inteligentes, capazes de trabalhar simultaneamente com várias portadoras, identificando qual a mais adequada para transmissão de dados naquele instante. Nessa operação, é reservada ao provedor do sinal a prerrogativa de desligar a qualquer momento uma portadora problemática ou que esteja interferindo em outras atividades fundamentais. E tudo isso em milissegundos.

No Brasil, a Anatel encerrou em setembro último a consulta pública visando estudos para implantação do BPL (Broadband Powerline). Este nada mais é do que o sistema de acesso em banda larga utilizando redes de energia elétrica, uma das possibilidades oferecidas pelo conceito PLC, tendo já sido determinada a faixa de freqüência de 1,705 a 50MHz. Na prática, esse foi o primeiro passo para se chegar a algo fantástico: transformar qualquer tomada elétrica de nossas residências em pontos de acesso à internet (e alcançar taxas acima de 100Mbps) ou qualquer outra rede de dados (automação e telefonia VoIP, por exemplo).

Para isso, bastará plugar na tomada de força um modem PLC, ou instalar uma placa no computador, para demodular o sinal que está trafegando junto à rede elétrica, tornando dispensáveis cabeamento adicional (como o CAT5) ou conexões wireless de curta distância, como Bluetooth.
Se nos EUA, Japão e Europa o PLC já é realidade, por aqui não tardará a chegar. Concessionárias como AES/Eletropaulo, CEMIG e Brasil Telecom/Oi já estão ensaiando os primeiros passos nessa tecnologia, com projetos em São Paulo, Minas Gerais e Maranhão. É possível que alguma coisa aconteça já em 2009, desde que a Anatel regulamente tudo.

Curiosamente, em 2002 propus a implantação de um grupo de estudos para avaliar a viabilidade de implantação de projeto piloto de BPL na administração pública paulista. Obviamente, não fui levado a sério, mostrando que o atraso tecnológico brasileiro é causado principalmente pela falta de visão daqueles que se dizem entendidos em tecnologia.

Para saber mais sobre o assunto, consulte o hot site Japão High-Tech.

*Texto publicado originalmente na revista HOME THEATER & CASA DIGITAL

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