Philips sai de cena - Gradiente diz que volta

Incapaz de competir com os fabricantes de tevês asiáticos, como as coreanas Samsung e LG, empresa holandesa deixa setor e anuncia parceria com chineses

Desde 1928, a holandesa Philips fabrica tevês. A partir da década de 1950, os aparelhos se transformaram em peça central da estratégia na companhia e o carro-chefe de suas receitas. Na semana passada, no entanto, a empresa colocou um ponto-final nessa história. Incapaz de competir com os produtos asiáticos, especialmente os fabricados pelas coreanas Samsung e LG, a Philips informou que estava abandonando o mercado de televisores, área em que já foi líder mundial.

Com prejuízos que chegam a quase E 1 bilhão em sua divisão de tevês desde 2007, a empresa de Amsterdã anunciou uma joint venture com a chinesa TPV Technology, baseada em Hong Kong, dona da marca AOC, da qual deterá apenas 30%. “Voltei para a Philips e rapidamente percebi que o negócio de tevê tinha um problema de desempenho e alguns desafios estruturais”, disse ao jornal britânico Financial Times, Frans van Houten, que assumiu o cargo de CEO da companhia em abril de 2011, sucedendo o legendário Gerard Kleisterlee.
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Frans van Houten: CEO assumiu em abril de 2011 e já tomou a decisão de abandonar mercado de televisores
Em poucos dias, Houten, que já comandou a divisão de semicondutores da Philips, decidiu mudar esse jogo. Pelo acordo com a chinesa TPV, a Philips vai começar a receber royalties a partir de 2013. Terá também direito a um valor das vendas de cada televisor, a partir de 2014, caso a operação tenha lucro. A decisão de deixar o negócio de televisores não pode ser considerada exatamente uma surpresa, pelo menos internamente na companhia.
As receitas da divisão de tevê representaram cerca de 25% das vendas totais da empresa em 2006. No ano passado, quando a Philips faturou E 22,3 bilhões, essa participação havia caído à metade. Nos últimos 10 anos, a fatia global da área de televisores reduziu-se de 10% para entre 5% e 6%, de acordo com estimativa de Sjoerd Ummels, analista do banco holandês ING. A Philips já havia também parado de fabricar televisores para os mercados americano e asiático, locais onde havia assinado acordos semelhantes ao firmado com a TPV de licenciamento da marca.
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No Brasil, onde opera uma fábrica de eletrônicos, localizada em Manaus, os executivos da empresa já davam sinais de que o negócio de tevê estava cambaleante. Há cerca de um ano, Paulo Ferraz, que ocupava a vice-presidência de produtos de consumo da Philips, dizia que a participação dos televisores nas vendas totais do setor deveria ser reduzida à metade até 2011.
Ferraz, que hoje é o presidente da fabricante de impressoras Epson, faz parte de um time de executivos que deixou a companhia desde que Marcos Bicudo assumiu a operação brasileira, no segundo semestre de 2009. Entre eles, estão José Fuentes Molinero Jr., que era vice-presidente de business communication e se transferiu para a rival Samsung, onde comanda a área de eletrônicos, e Daurio Speranzini Jr., que ocupava a vice-presidência da divisão de cuidados com a saúde, e hoje está na mesma área na GE.
Quando chegou à Philips, Bicudo já encontrou uma subsidiária que não estava na sua melhor forma nos negócios de televisores. De acordo com um executivo que já trabalhou na operação local da Philips, ela perdeu até dez pontos percentuais de mercado na área de tevê nos últimos três anos no Brasil.
Atualmente, detém uma fatia estimada em 10%. Assim como acontece globalmente, a empresa enfrenta forte concorrência das companhias asiáticas no mercado brasileiro. “Foi uma decisão acertada”, afirma Ivair Rodrigues, diretor de pesquisa da consultoria de tecnologia IT Data. “A Philips precisava sair de produtos de baixo valor agregado e pouca margem.”
A Philips não informou como ficará fábrica de Manaus. Além de tevês, são produzidos nessa planta aparelhos de áudio, home theather e tocadores de Blu-ray, entre outros itens eletroeletrônicos. A AOC, que deve assumir a produção, tem presença no Brasil, onde opera duas fábricas – uma em Jundiaí, no interior de São Paulo, e outra na Zona Franca de Manaus.
A empresa chinesa, que emprega 2 mil funcionários no País, tem boa participação no mercado de monitores, fabricando inclusive para a própria Philips por aqui, segundo fonte do setor de tecnologia. Na área de tevês, contudo, sua penetração ainda é pequena. Cabe a ela agora a missão de recuperar o prestígio da marca holandesa no Brasil.
Gradiente diz que volta – mais uma vez. Será?
A Gradiente, do empresário Eugênio Staub, diz que está pronta para voltar a operar. Nesta semana, a companhia vai divulgar um fato relevante ao mercado, informando que concluiu as negociações para a constituição da CBTD (Companhia Brasileira de Tecnologia Digital), criada por Staub para produzir notebooks e tevês de telas finas e até tablets.
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Eugênio Staub: empresário diz que concluiu as negociações para trazer a Gradiente,
agora com o nome de CBTD, de volta ao mercado
Os acionistas da nova companhia serão o fundos de pensão Funcef, dos funcionários da Caixa Econômica Federal, Petros, dos empregados da Petrobras, a Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam) e a Jabil, empresa americana do setor de eletrônicos, com faturamento de mais de US$ 11 bilhões por ano, que já tem uma fábrica em Manaus, informou à DINHEIRO uma fonte que conhece o acordo. Staub não terá o controle da empresa. Ele será minoritário e terá assento no Conselho de Administração. A previsão é de que os investidores deverão aportar recursos no valor de R$ 60 milhões, para capitalizar a empresa e permitir que possa iniciar sua produção no segundo semestre de 2011.
Com dívidas estimadas em R$ 384 milhões, a Gradiente paralisou suas atividades há quatro anos. Foi à bancarrota, entre tantos motivos, em razão da compra da Philco, em 2005, por R$ 60 milhões. Teve de vendê-la, dois anos depois, por R$ 22 milhões. Excesso de despesas e uma estrutura organizacional engessada e centralizada na figura de Staub contribuíram para a ruína.
Em 2009, Staub negociou um plano de recuperação extrajudicial com seus credores, como o Bradesco, Safra, Bic, entre outros. Aprovado em 2010, o plano ainda não saiu das intenções. Pelo acordo, Staub teria nove anos para quitar seu débito, com carência nos dois primeiros. O empresário deve usar o lucro da nova companhia, assim como o aluguel de duas fábricas que mantém em Manaus para pagar aos credores.
Nos últimos dois anos, Staub vem ensaiando sua volta, sem sucesso. Em dezembro de 2009, o empresário, que se notabilizou por sua amizade com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem apoiou nas eleições de 2002 e 2006, disse em entrevista à DINHEIRO, que voltaria a operar no segundo trimestre de 2010. Não conseguiu. Será que desta vez o plano sairá do papel? Procurado, Staub não quis dar entrevista.

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