Preços de TVs assustam fabricantes e varejistas


Esta é uma boa hora para comprar um televisor, e no entanto Ram Lall, vendedor de TVs, nano está nada feliz. No showroom da enorme loja J&R, em Nova York, ele diz que a época de ganhar dinheiro vendendo TVs já passou. Apontando um modelo Sony top de linha de 55 polegadas, Lall garante que o teria vendido por 6 mil dólares alguns anos atrás. Preço atual: US$ 2.599.
“Estamos ganhando menos porque o fabricante está nos forçando a baixar os preços”, explica ele, em meio a pilhas de TVs com suas telas brilhantes. Esses aparelhos ficaram tão baratas que as margens de lucro foram espremidas até o limite, como resultado de um enorme aumento na capacidade de produção que levou a indústria a ficar super-estocada. E também das pressões por parte de fabricantes de produtos de baixo custo e das lojas virtuais.
As liquidações são ótimas para o consumidor, mas acabam sendo um pesadelo para fabricantes e revendedores. Os ganhos dos principais fabricantes – Panasonic, Toshiba, Sony – despencaram. A Sony, por exemplo, está desativando sua divisão de TVs devido ao que um executivo recentemente chamou de “crise por causa dos contínuos prejuízos que temos registrado”. Até fabricantes que estão há pouco tempo no mercado vêm tendo dificuldades para ganhar dinheiro com TVs – se é que estão ganhando algum.
Para estancar as perdas, a Sony decidiu encerrar sua parceria com a Samsung, iniciada em 2004, para explorar o crescente setor de displays LCD. Com isso, espera economizar nos custos de fabricação, embora continue comprando painéis da própria Samsung. Para os revendedores, o quadro não é muito melhor. Em dezembro, a Best Buy – maior rede do planeta – registrou queda de 29% em seu fatuamente para o quarto trimestre de 2011; em parte, isso se deve às liquidações de TVs e outros produtos eletrônicos.
Talvez mais preocupante a longo prazo seja o fato de que o futuro dos TVs esteja mais nos conteúdos que podem exibir (exemplos: Netflix e iTunes), e menos em seus recursos técnicos (telas finas, imagens 3D etc). Os fabricantes não vêm conseguindo o êxito esperado nessa área. “Todo mundo briga para uma pequena quantidade de dólares”, explica Gregg Richard, presidente da PC Richard and Son, rede com 66 lojas. “Estamos vendendo mais TVs, a preços mais baixos”.
Para piorar, os consumidores parecem relutantes em pagar mais por recursos como 3D e conexão à internet. Em vez disso, preferem esperar pacientemente alguns meses, até que os preços caiam. “As pessoas antes pagavam mais por um modelo Sony Trinitron”, lembra Riddhi Patel, da IHS Supply, empresa de pesquisas de mercado. “Mas a indústria acostumou o consumidor a não aderir de imediato às novas tecnologias e, sim, esperar seis meses para os preços caírem”.
Paul Gagnon, da DisplaySearch, outra empresa de análise da indústria eletrônica, observa um TV LCD Sharp de 60″ hoje é vendido por apenas 799 dólares – metade do que custava um ano atrás. “É absolutamente incrível”, diz. É uma redução violenta para um setor que durante anos manteve crescimento de dois dígitos. Em 2004, foram vendidos na América do Norte 32 milhões de televisores, ao preço médio de 400 dólares, lembra Gagnon. O tamanho médio desses aparelhos era de 27 polegadas. Hoje, 44 milhões de TVs são vendidos por ano, com tamanho médio de 38″ e custo médio de 460 dólares.
Segundo ele, os consumidores compram um TV novo a cada sete anos, e cada residência possui, em média, 2,8 aparelhos. Esses números podem sugerir um paraíso para os fabricantes, mas na verdade os modelos mais avançados têm custo de produção mais alto, o que acaba resultando em margens de lucro menores. Para reduzir as despesas, as empresas investem em novas fábricas sofisticadas, ou reformam fábricas antigas que conseguiam produzir mais TVs a custo mais baixo. O problema é que essas fábricas começaram a funcionar exatamente quando veio a recessão, forçando os preços para baixo.
Outro problema: a possibilidade de usar tablete como televisores também acaba afetando as vendas. A consultora Riddhi Patel, que ganha a vida trabalhando para a indústria de TVs, confessa que possui em casa somente um TV e vários iPads. “Sabe de uma coisa? O preço de um iPad é o mesmo de um TV LCD de 42″. E é um produto mais versátil, além de ser pessoal qualquer pessoa pode usá-lo”.
Ainda não se sabe se a Apple irá mesmo entrar no segmento de TVs, mas Gagnon acha que os fabricantes atuais deveriam se concentrar em criar “interfaces intuitivas” que facilitem o uso com outros aparelhos. “Se a Apple entrar mesmo, vai trazer uma nova experiência ao usuário. E os fabricantes tradicionais terão que correr atrás”, diz ele.
Por Andrew Martin – The New York Times

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